Uma passarela une realidades muito diferentes no município de Iguape, no litoral Sul de SP. De um lado, o Centro Histórico, com casarões antigos e prédios históricos. Do outro, o bairro do Rocio, em que vivem quase metade dos 30 mil habitantes da Cidade e onde há problemas de infraestrutura e de estigmatização social. É diante dessa realidade que a estudante Luana Aparecida Rocha dos Santos, de 15 anos, quer intervir. Ela faz parte da iniciativa Crescer com Proteção, desenvolvida pelo Unicef e pelo Ministério Público do Trabalho com o Instituto Camará Calunga e a organização Agenda Pública. A iniciativa envolve 32 adolescentes nos municípios de Iguape, Ilha Comprida, Cananeia, Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande e São Vicente, no Litoral Sul de SP.
Sua história vem do trabalho coletivo, na terra. Seu pai nasceu na zona rural de Iguape e sua mãe vem de uma comunidade quilombola em Iporanga, município também na região do Vale do Ribeira. Seus avós seguem até hoje nesta região, lutando contra a remoção de suas terras e a desvalorização de suas práticas tradicionais de manejo e de sua cultura. Viu a igreja de sua comunidade ser construída a partir da organização das pessoas, assim como os grupos que lá participam. A participação em grupos e coletivos já vem de longa data. Ingressou no grêmio estudantil da sua antiga escola ainda no quarto ano do ensino fundamental. Chegou a presidente do grêmio e, junto com outros alunos, mantinham diálogo com a direção para atender as demandas dos estudantes. Nessa escola, na região do Centro Histórico, Luana condições e atendimento melhores que da escola em que estuda desde o ano passado, no bairro do Rocio. Atualmente no segundo ano no Ensino Médio, Luana viu na iniciativa Crescer com Proteção uma oportunidade de potencializar todo o processo de construção coletiva que já experimenta desde muito cedo.
Devido à pandemia, as atividades vêm acontecendo exclusivamente pela Internet. Nos encontros, partilham suas histórias de vida com destaque para a percepção a respeito dos seus direitos que são violados e o que podem fazer para mudar a situação. Apesar da diversidade entre os 32 adolescentes que participam da iniciativa, eles conseguem perceber pontos em comum, sobretudo a respeito das violações de direitos que vivenciam. Nas reuniões online se organizam para apresentar suas percepções e situações vividas através de apresentações teatrais, música e outras formas de arte.
‘Ser jovem é imaginar um mundo de possibilidades. É acreditar que pode fazer muito mais.”
Luana Aparecida Rocha dos Santos, 15 anos.
Para Luana, a iniciativa Crescer com Proteção é mais uma ferramenta que permitirá aos jovens se mobilizar tanto para uma ação política de construção e fortalecimento de direitos, como também de realizar ações concretas. “É preciso olhar para as situações que nos incomodam e pensar de forma estratégica e coletiva como podemos transformar na prática”. Neste sentido, está organizando com Thays, Ana Teresa e Samarah, também participantes da iniciativa em Iguape, formas de que outros jovens se integrem e formem uma articulação que lute por melhores condições e garantia de direitos para a juventude. Para, quem sabe, acabar com a distância de realidades entre cada um dos lados da passarela.
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