A vida nos presenteia com pequenos prazeres cotidianos, como andar pelas ruas com tranquilidade e segurança podendo observar a beleza ao redor. É assim que Lissandra Helena se sente ao fazer o pequeno percurso até a escola municipal onde atua no grêmio estudantil. Depois de uma infância cheia de mudanças, ela reside com a família em Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, e conta que adora caminhar pelo bairro Vila Mirim, onde mora. Ainda que, como toda mulher, tenha receios em andar sozinha, este é um momento da rotina que a faz bastante feliz.

O dia a dia mudou consideravelmente com a pandemia, mas Lissandra continuou a frequentar as atividades do grêmio, uma forma que encontrou de manter vínculos com movimentos coletivos e não deixar a educação formal ficar ainda mais comprometida na sua vida e também na de seus colegas.

Agora aos 16 anos, Lissandra firmou os pés no litoral depois de muita andança com a família. Natural da capital, ela conta que a vida com os pais separados lhe rendeu alguns endereços:

“Eu moro com minha mãe, meu padrasto, uma irmã e dois irmãos, mas também tenho um irmão mais velho por parte de pai. Eles moram em São Paulo, onde nasci, mas me mudei muitas vezes, morei em vários bairros da capital e até em Minas Gerais.”

A infância foi marcada pela guarda compartilhada entre seu pai e sua mãe. Muitas casas, muitos conflitos, muitas escolas e muita resiliência para se adaptar a tantas mudanças. Essa constante necessidade de ter que se adaptar a novos contextos a fez sempre ser “a garota nova” e, consequentemente, alvo fácil para o bullying, episódios que são  importantes cicatrizes da sua formação. Sofreu gordofobia, racismo e xenofobia, por conta do sotaque, e lamenta a experiência. Hoje reconhece que passar por todas essas dificuldades a fez mais forte:

“Sofrer bullying me ensinou bastante, ensinou que eu não tenho que abaixar a cabeça e tenho que ter muito orgulho de quem eu sou.”.

A autoconfiança e o orgulho de sua identidade e história não foi algo fácil de conquistar, mas a iniciativa Crescer com Proteção tem cumprido um papel importante nesta trajetória. Ela se inscreveu assim que viu a publicação no Facebook, mas só foi chamada, de fato, alguns meses depois do início do projeto. Foi então que, aquelas cicatrizes que minaram tanto sua autoestima e geraram inseguranças atacaram novamente. Ela acreditava que não seria capaz de contribuir e enriquecer o debate proposto, mas o grupo lhe mostrou uma outra forma de ver as coisas:

“Eu tinha muito medo de entrar e fazer alguma coisa errada, de prejudicar o projeto, mas ele me mostrou que eu tenho capacidade de alcançar muitas coisas que, para mim, eram impossíveis, e isso me deixa muito feliz.”.

Com o envolvimento no grêmio e no CCP, Lissandra ressignifica sua escola e seu território, e cria, a partir da construção coletiva nesses espaços, ferramentas de mudança  em direção à realização do sonho de transformar o mundo, cuidando uns dos outros, e deixando uma marca na história:

“Eu quero ser alguém que vá fazer a diferença no mundo, quero crescer, aprender mais e adquirir mais conhecimento para me formar em medicina e me especializar em pediatria.”.

Sabem aquele velho ditado “se a vida lhe der limões faça uma limonada”? Lissandra está colocando em prática e fazendo da vida um refrescante suco à beira mar.

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