“……A todo custo, quero entrar na parede. Esconder-me, fazer parte do cimento do quarto. Olhos na abertura da porta rodam a fechadura. Já não sei quem e o que sou. Acuado, tento fuga alucinante. Agarrado, imobilizado… escuto parte do meu gemido. Quem disse que só se morre uma vez? “
Com essas palavras, extraídas do poema que conta sobre a espera para ser tratado com eletrochoques em um manicômio, Austregésilo Carrano Bueno abre seu livro “Canto dos Malditos”, que inspirou a diretora Laís Bodansky no filme “Bicho de 7 cabeças”.
Carrano deixou público os erros de diagnóstico, os tratamentos degradantes a base de tortura e os crimes cometidos pelo então sistema psiquiátrico brasileiro, fez parte da Comissão pela Reforma da Saúde Mental em 1999 e foi também a primeira pessoa a mover processos contra os médicos psiquiatras envolvidos em seu caso, com muita coragem. Sua obra foi a primeira a sofrer censura após o duro período da ditadura militar.
Esse mês, Carrano completaria 62 anos e em um ano de tantos retrocessos sua luta ainda nos inspira, assim como nos ensinou durante tanto tempo. Isso porque os fundadores do Instituto Camará Calunga fizeram parte, ombro a ombro com Austregésilo e outras figuras importantes e corajosas da luta antimanicomial.
Então, é com imenso senso de responsabilidade, alegria e compromisso que soubemos da nossa nomeação para ganhar o 11º Prêmio Carrano de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos será realizada no dia 22 de maio, quarta-feira, no Teatro de Contêiner Mungunzá, a partir das 18h30 na cidade de São Paulo. O prêmio é organizado anualmente pelo coletivo Gato Seco – Nos telhados da Loucura e em 2019 homenageará pessoas e instituições que, com sua arte e atitude, contribuem denunciando e atuando para manifestar indignação contra violações dos Direitos Humanos, especialmente no que se refere às pessoas nas condições de sofrimento mental.
Além do Instituto Camará serão homenageados: Carmen Lopes, Cida Almeida, Coletivo Arouchianos, CDC – Coletivo Democracia Corinthiana, Lisiane Braecher Braecher (Advogada, Coordenadora do Grupo de Trabalho Saúde Mental e Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão de SP), O Autor na Praça (pelos 20 anos do projeto), Paulo Freire (Patrono da Educação no Brasil) e outros nomes que serão confirmados. No dia, haverá também tributo especial à poeta negra Tula Ferreira Pilar “Carolina” Ferreira (in memorian), militante de várias lutas e integrante do Coletivo Gato Seco.
É na luta que a gente se encontra!
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