Nota de Repúdio à Campanha

 “COVID MATA – Não faça da sua vida uma roleta russa”

O coletivo de pessoas e organizações que assinam este documento vem à público manifestar seu repúdio ao vídeo divulgado pela prefeitura de São Vicente no último dia 19 de março de 2021, visando a conscientização da população e o combate ao COVID-19. Atualmente, segundo a Fiocruz¹, o Brasil lida com a maior crise sanitária e hospitalar de sua história. O país hoje enfrenta cotidianamente um cenário em que unidades de tratamento intensivas (UTIs) estão lotadas, há previsão de falta de medicações necessárias e ausência de leitos suficientes para cuidar de sua população. O cenário é crítico e no mês de abril, atingiu-se o maior número de mortes diárias desde o início da pandemia.

Diante desse cenário, é de extrema importância que exista a conscientização da população para que a mesma siga orientações e cuidados dados por especialistas e profissionais atuantes na área da saúde pública visando o enfrentamento coletivo da doença. Campanhas municipais, estaduais e federais têm um papel importante nesse sentido, uma vez que dialogam diretamente com a população.

Entretanto, cabe a nós manifestarmos em público nosso repúdio pelo uso da arma de fogo e da temática do suicídio na campanha veiculada em dois canais de comunicação da prefeitura municipal.

Sabe-se que recentemente decretos foram flexibilizados visando facilitar o porte de armas de fogo e munições pela população. A questão da segurança pública no país é complexa e traz à tona inúmeros desafios. Entendemos que a construção e execução de políticas públicas de qualidade e a garantia de direitos humanos básicos são o caminho para o enfrentamento dessa questão. Armas não são o caminho para a construção de uma sociedade mais digna para todos. Posto isso, ressaltamos que a propaganda pode provocar a naturalização e fazer apologia ao uso de armas. Independentemente de ter sido pensada visando alertar a população, é irresponsável a utilização de uma arma para tal.

Ademais, o vídeo trata da temática do suicídio de forma inconsequente. Em um momento de tamanha instabilidade econômica e social, o sofrimento psíquico da população brasileira está cada vez maior – estudos indicam que houve um crescimento de aproximadamente 80%² nos casos de ansiedade e estresse dentre os entrevistados em uma pesquisa realizada pela UERJ visando compreender o comportamento dos brasileiros diante do isolamento social. Recentemente, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)³ alertou que a pandemia pode aumentar os fatores de risco para o suicídio. Essa é uma questão de saúde pública mundial e deve ser tratada com a seriedade necessária por todos, especialmente pelo poder público. A população encontra-se fragilizada, desamparada e em sofrimento e a campanha pode provocar exatamente o efeito contrário ao que se propõe, ou seja, pode provocar medo, insegurança e ainda mais sofrimento. Além disso, pode corroborar para a manutenção de preconceitos e ausência de diálogo sobre o tema de forma responsável e cuidadosa.

Posto isso, solicitamos que o vídeo seja retirado do ar e que exista uma retratação pública diante dessa situação. Cabe ressaltar que estamos à disposição para o diálogo e que as ciências humanas e sociais tem o compromisso com uma atuação responsável, ética e baseada nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

 

Fontes:

¹https://portal.fiocruz.br/noticia/observatorio-covid-19-aponta-maior-colapso-sanitario-e-hospitalar-da-historia-do-brasil

²https://www.uerj.br/noticia/11028/

³https://brasil.un.org/pt-br/90498-pandemia-da-covid-19-aumenta-fatores-de-risco-para-suicidio

 

A postagem referida está disponível nos seguintes links:

https://fb.watch/4GJUkAB1zs/

https://www.instagram.com/p/CMnOAUygy3O/?igshid=lz1gkdu6bf1l

 

Assinam este documento, até o presente momento, 91 pessoas e organizações:

 

Conselho Regional de Psicologia de São Paulo – Subsede Baixada Santista e Vale do Ribeira

FÓRUM Regional de Trabalhadores do SUAS da Baixada Santista

Instituto Camará Calunga

SINDSERV SANTOS –  Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Santos

 

Ailton Martins

Alessandra Serrão

Alithea Cristina

Ana Paula Nogueira Couceiro

Analia Maria da Silva – Educafro – presidenta do PT SV

Andreia Lopes Ramos

Ariane Cursina da Silva

Benedita Rosa Pinto dos Santos

Carla Cristina Silva

Carolina Oliveira de Almeida

Cleuza Maria Coelho da Silva

Cristian Teixeira da Silva

Dijane Marques

Eduardo Kliman – Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção São Vicente

Émerson dos santos

Enrico Carvalho Rezende Watanabe

Fátima Carolina Muniz Baeta

Felipe De Oliveira Gouveia

Fernanda Carvalho (TJ/SP)

Graziela Da Cruz Ramos

Guilherme Marques Nogueira Zupo

Guilherme Rodrigues Júnior

Hellen Marcela Marques Teixeira

Joana Paula Moreira Franco

João Carlos Guilhermino Da Franca

José Eduardo Gama Noronha

José Luiz De Menezes

Julian Campos Da Silva

Juliana Santos Alves De Vasconcelos

Kidauane Regina Alves

Lara Oliveira Vilela

Leandro Antunes Campos

Lívia Camargo

Lorraine Pinheiro Lopes

Lúcia Alencar

Marcelo Soares Vilhanueva

Marcia Cristina Marinho

Marcia Tristão Franco

Maria Bernadete Pereira

Maria De Lourdes Codato De Oliveira

Maria Dionísia Do Amaral Dias

Maria Eurides Pereira

Maria Janaina Leandro Da Silva

Marta Regina Dos Reis

Mauricio Lourenção Garcia

Michelle Lima Correia

Nádia Barros Do Nascimento

Nádia Mangolini Carvalho

Neide Lopes De Moura Chagas

Raquel Pereira Souza Freire

Rita De Cassia Calorio

Rogerio Venancio De Morais

Rosana Maria Gabriel

Roseana Dantas Dos Santos

Sérgio Ricardo Hurtado

Sônia Fernandes Avelar

Susana Costa

Suzana Yoshiko Sasaki

Tânia Mangolini Carvalho

Telma Maria Santos Jacob

Valéria Alves Da Silva

Vanessa Aparecida Nascimento Salgado Silva

Vera Pires Dos Santos

Viviane Gorgatti

Wagner Bessa Teixeira

Yonne Souza Vaz

Marco Akerman – CEPEDOC Cidades Saudáveis / Faculdade de Saúde Pública da USP

Daniela Nunes Araujo

Marcos Vinicius Ellero

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