“Acredito perfeitamente na nossa capacidade de mudar o mundo trabalhando juntas e juntos”.

 

Durante a pandemia, muitos jovens se sentiram isolados e sem a possibilidade de compartilhar ideias, experiências e angústias. Foi buscando encontrar lugares para superar o isolamento e conhecer novas experiências que a adolescente Melyssa Fernandes Ramos Leandro, de 15 anos, passou à integrar a Iniciativa Crescer com Proteção, promovida pelo Unicef e pelo Ministério Público de Trabalho (MPT) em parceria técnica com o Instituto Camará Calunga e a Agenda Pública. Os meios digitais foram importantes aliados em fomentar o desejo da adolescente de transbordar para além das margens de Ilha Comprida, município do Vale do Ribeira onde vive.

Melyssa mora com dois irmãos mais novos e a mãe, que trabalha como cozinheira em um restaurante da cidade. Com uma vontade tão grande de conhecer o mundo, talvez os limites da Ilha Comprida não sejam suficientes. Por isso, ela acredita tanto no potencial de sua participação no Crescer com Proteção: “A gente vem construindo um processo. Já fizemos um questionário sobre a violência que atinge a juventude, conseguimos até fazer parte do CMDCA em São Vicente, entre outras coisas. Acredito perfeitamente na nossa capacidade de mudar o mundo trabalhando juntas e juntos”.

Além do papel de jovem mobilizadora na Iniciativa, Melyssa também foi representante de classe na Escola Municipal Monte Carlo, função que exerceu até o início da pandemia e suspensão das aulas presenciais. Ela levou essas experiências coletivas ao CONCAUSA, ação virtual que pretende articular iniciativas de inovação social promovida por adolescentes e jovens em toda a América Latina, como uma das representantes do Crescer com Proteção.

No CONCAUSA, participaram 30 adolescentes e jovens de todo o Brasil, integrantes de iniciativas que enfrentam problemas como violência, saúde, direitos humanos, entre outros. Ao longo dos encontros, os jovens pensaram e discutiram sobre temas como: desigualdade de gênero, participação política e transformação social, sempre com o desafio de partir da trajetória e da reflexão coletiva de cada um dos grupos. A cada encontro, o horizonte de Melyssa se tornou ainda mais amplo, assim como a percepção de que as realidades brasileiras têm muito em comum.
As ações coletivas do Crescer com Proteção também têm possibilitado se ver como alguém que pode intervir significativamente no mundo e, neste processo, ir se reconhecendo. A religiosidade, por exemplo, é parte importante da sua vida. Melyssa cresceu dentro de uma congregação cristã, mas se afastou devido às posturas de submissão feminina. Foi na companhia de outras adolescentes da iniciativa que se descobriu feminista. “Eu percebi que desde dentro de casa eu já vinha recebendo exemplo de como ser uma mulher forte e batalhadora como a minha mãe, que é mãe solteira”.

Mais consciente de quem é e do que pode, Melyssa contribui com o Núcleo de Cidadania de Adolescentes e Jovens de sua cidade (NUCA Ilha). As atividades do NUCA provocam outros adolescentes e jovens a também expandirem seus horizontes para além das margens da ilha e se engajarem coletivamente pela garantia de direitos.

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